domingo, 7 de janeiro de 2018

Viagem gastronómica: Saikō em Lisboa

Reportagem ao Saikō
O novo sushi fusão de Lisboa

Resumo da Experiência: Este é o novo lugar no "business district' de Lisboa onde se serve Sushi de Fusão. Mas aqui mais do que a amálgama sensorial a que vários alfacinhas já se habituaram serve-se originalidade gastronómica com toques de Brasil, África, Ásia e Europa. E assim neste cantinho acolhedor do Campo Pequeno conseguem cabem quatro continentes. No final, o paladar sai satisfeito. De ressalvar que ao almoço há menus mais em conta que são de aproveitar. Até porque o preço na ementa, em geral, é para um segmento caro da restauração mas a qualidade dos produtos servidos bem como o trato e a forma da arte de servir justificam o preço. Ideal para negócios, jantares românticos - e atenção que vai haver uma promoção no dia dos namorados - e viagens gastronómicas sem sair da mesa. Bem-vindos ao Saikō.



Reportagem Completa
O novo sushi do "business district" de Lisboa

A convite da Rita e do Tiago que gerem o Saikō (leia-se "saikô") com o apetite já aguçado fui até este novo canto gastronómico da cidade. Lá sabia que iria provar um sushi inovador mas nesta casa, mais do que o sushi, o próprio conceito, o espaço e as pessoas são uma agradável e harmoniosa fusão.

Logo à chegada, como tínhamos mesa marcada, o Jorge, simpático e profissional empregado de mesa, abriu-nos a porta com um sorriso na cara convidando-nos a entrar e dizendo "Estávamos à sua espera Sr. João". Ora começando desta forma auspiciava-se desde logo uma agradável tarde de repasto. No serviço de mesa fomos atendidos pelo Lucas que ao longo das duas horas e meia seguintes nos serviu comida em formato de longa-metragem. Sim, isto foi uma autêntica maratona... Mas daquelas em que se corre por gosto. Até porque a gastronomia japonesa é, logo depois da nossa, a mais singular em todo o mundo. Quem não tem curiosidade para a degustar? Mas por trás dos funcionários do Saikō Campo Pequeno, bem como de toda uma equipa de cozinheiros, ajudantes de cozinha e lado a lado com os gestores (infelizmente a Rita nem o Tiago lá puderam estar neste dia), está o grande motor da casa (e no sentido mais literal também, já perceberão porquê). Então passo agora a apresentar-vos o Chef Péricles Lacerda. Este profissional, já com ampla experiência na área do sushi em Portugal (Zutchi, Tamagoshi, Sushimoto e Rio's), nasceu em Salvador da Bahia e como diz o próprio "Sou brasileiro mas fui criado no Estoril". Indica-nos ele também que o "Saikō é fusão, não é confusão!" O que faz todo o sentido tendo em conta o ar "clean", agradável e convidativo com que este restaurante nos brinda o olhar. Outra frase ainda que ele costuma dizer é que o "Saikō não vende sushi, mas vende sim a experiência".

E posto isto, vamos agora ao que ao que mais interessará aos leitores desta review na zomato... A comida: Começámos por pedir um chá. Até porque num restaurante de inspiração asiática o que mais poderia ser? Veio então o "sencha", um chá verde típico do Japão preparado com as folhas em contacto directo com a água quente, em oposição ao chá em pó também por lá utilizado. De sabor forte, com um travo amargo próprio desta folha oriental (que ressalve-se ainda cresce em Portugal, na ilha de São Miguel, para cá trazida a 1877 pelo mestre da arte de preparar chá, Lau-a-Teng). Mas como gosto deste chá servido numa malga ampla, com ar de ter vindo do Japão bem como o bule, e que nos permite beber descontraidamente e sem que metade do líquido se entorne não sabemos nós ou pouca gente saberá o porquê! O bule é sólido de ferro escuro esculpido geometricamente. E tudo encaixa neste espaço também ele de fusão com motivos árabes da praça de touros, bem como asiáticos. O jardim vertical é também um elemento engraçado e traz (mais) um toque de feng-shui ao espaço. E o bonsai à mesa no seu vaso com o nome do restaurante olha sobre nós o tempo todo. E como fica bem.

> "Saikō é fusão, não é confusão!" - Conta o Chef Péricles

Se antes das sopas se molham as bocas, como por cá se diz. Vou arriscar fundir umas palavras para deixar escrito que com os vossos pratos nos deixaram estupefactos. De uma apresentação irrepreensível. Nem um pequeno desvio de um molho havia. Nota máxima (nem sei se escrever Nota 20, como em Portugal, ou "Nota Deiz", como se diz no outro lado lusófono do Atlântico Sul. Bem, e assim começou provavelmente o mais belo desfile de sempre da gastronomia sushi dos últimos tempos. A marcha alimentar propriamente dita começou com as entradas. Algo surpreendente aí viria, claro. Veio então um prato com duas folhas de endívias recheadas com pasta de salmão, saborosíssimo aliás. E ladeadas com uma porção de pepino marinado e vagens de soja. Estas últimas podem ser revistas, acredito. Pois, por serem muito fibrosas, são difíceis de mastigar. E julgo não ser o único com esta opinião. Um pequeno reparo apenas. Mas saudáveis, lá isso as vagens de soja são.

















Seguiu-se o Ebi Especial Saikō. E que prato... De longe, e não desmerecendo os restantes, foi o meu preferido. E eu que nem sou grande apreciador de camarão. Mas isto estava genial. Mesmo. Julgo que o Chef Péricles fez este golpe gastronómico logo início para nos deixar meio que imobilizados ("vide" a nota final desta reportagem sobre a veia desportista deste chef). O camarão veio enrolado e com ovas do peixe japonês "massagō" em cima. Ladeado no prato pelos molhos "kimuchi" (vermelho) bem como a maionese do chef. E vem claro o gengibre que, em pleno inverno também serve para reforçar o sistema imunitário. Aconselho. Depois veio o Hakusai (não confundir com Hokusai... esse grande pintor japonês do qual recomendo conhecer a obra). Neste prato é servido salmão envolto em couve-lombarda, com molho de maionese, no final salpicado com milho torrado, aqui sim, algo bem baiano, brasileiro, do sertão e interior deste país onde existem tantos outros países. Adorei este prato! Incrível, mesmo. Nota dez, vinte ou cem... conforme a escala. Nota máxima, caros leitores. Isto vale mesmo a pena e pode mesmo até ser um expoente máximo do sushi de fusão lusófona. Um bela mistura e de "fusão mas sem confusão", pois os gostos combinam de uma forma divina. O quarto prato, e ainda a procissão ia a meio..., foi o "Soft Crab", explicou-nos o Lucas. São os rolos de sushi envoltos na alga marinha, mas preparados com caranguejo. E de novo, não sendo eu apreciador de caranguejo, isto está tão bem preparado que é impossível não gostar. Já na recta final veio um prato assaz original. Ovo de codorniz envolto em salmão cozinhado e com ovos de massagō no topo, e vieiras abraçadas por salmão abraseado. No mínimo original, e na verdade, muito saboroso. Principalmente o ovo de codorniz.

















No fim, e ainda antes das sobremesas (e que tabuleiro... já lá vamos!) foi-nos servido um prato com rolos de sushi com camarão, frito ao estilo tempura, e com salmão abraseado no topo. E repicado com molho agridoce tarê (também conhecido noutras latitudes como teriyaki). Muito fixe, mesmo. Então, para rematar, e como golpe final, vieram as sobremesas. E ainda algum espaço no trato digestivo lá se encontrou, para poder degustar esta irresistível mistura (depois da fusão) de comidas doces. Havia gelado de chá verde. Eu gostei. Mas fica desde já o aviso à navegação de que é um pouco azedo mas o chá verde é assim mesmo. Para quem o aprecie na chávena, pois deve provar este gelado que para mais é artesanal. Com ele, vinha também outra bola de chá de sésamo. Saborosíssimo também. E repito: para quem gostar destas sementes, então não hesitem em espetar a colher na tacinha. Para além disto, a tarte de lima é óptima. Bem como a mousse (embora confesse... a da minha mãe é a melhor do mundo e isso nunca será negociável!) A mousse de maracujá estava divinal e lembrou-me das que comi de facto no Brasil onde o maracujá é fresquíssimo, embora também o tenhamos na Madeira. E para os/as apreciadores de cheesecake, não sendo muito o meu caso, informo-vos que as de frutos vermelhos e de caramelo, nesta casa são especiais. Avançem para elas.

E fusão é isto. Para mais, em português. Como tal só tenho a recomendar este restaurante. No final desta "experiência", mais do que o sushi ser de fusão, a vida neste restaurante é de fusão. A começar pelo lugar que é um sushi numa praça de touros, ao Chef Péricles que, como diz ele, é "baiano mas criado no Estoril". Ao amável casal formado pela Rita e o Tiago que adoram viajar. Ao Jorge, oriundo de Angola, das periferia de Luanda e a viver em Lisboa há já mais de dez anos, ao Lucas que tão português que é o seu sotaque, ninguém diria ser ele nascido no outro lado do Atlântico Sul junto a uma das maravilhas da natureza, a Foz de Iguaçú. Mas maravilhosas foram as comidas que esta equipa toda do Saikō nos preparou e trouxe à mesa. Obrigado e muito respeito têm de mim. Fica então um especial reconhecimento, para além da originalidade dos pratos aqui servidos, também a todo o trabalho de pesquisa feito em torno da comida e da decoração japonesa, calculo eu ter sido pela Rita e o Tiago, para além do Chef Péricles, que aporta ainda mais autenticidade ao restaurante. É uma fusão mas que não perde as suas raízes da terra do sol nascente.

E não posso terminar sem desvendar o mistério do motor... Há que destacar ser o Chef desta casa, Péricles Lacerda também um vice-campeão europeu de jiu-jitsu em 2005, e ser também praticante de motociclismo de competição, tendo ganho já a Copa Dunlop Motovale. Não que eu seja um apreciador dos desportos motorizados nem muito menos violentos, que não sou. Antes pelo contrário, mas este baiano que passou pelo "sushimoto" tem de facto histórias para contar devido à sua veia gastronómica, desportista e empreendedora. Tem os meus créditos por isso. De ressalvar também os planos de expansão já em andamento do Saikō para Madrid e Miami. A poucos meses de este grupo de restauração completar um ano de existência, é admirável saber de tais planos. Pois cá estaremos à espera dessa notícia. E já que os portugueses levaram os peixinhos da horta, hoje em dia transformados em "tempura" então, estes portugueses podem muito bem levar o melhor sushi de fusão lusófono para estas paragens. Só não entendo é porquê diferenciarem Lisboa de Estoril. Se o último é também parte da Grande Lisboa. Eu diria a nível internacional e para o resto do nosso país que estão em Lisboa, Madrid e Miami. E em Lisboa diria que estão no Estoril, Campo Pequeno, Madrid e Miami. Julgo que fortalecendo a cidade temos todos a ganhar. Apenas esse reparo no impressionante relevo do vosso logótipo nas escadas. Então resta-me desejar um feliz 2018 a este restaurante, mais uma vez apelar a que Lisboa venha ao Saikō. E a que, como dizia na TV o Chef João Carlos Silva, façam o favor de ser felizes! De preferência no Saikō!

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