segunda-feira, 23 de março de 2009

Na Amazónia Peruana

21 de Março de 2009
Iquitos, Perú

Já faz um bom tempo desde que não me dedico a escrever relatando o que se tem passado no meu quotidiano. Já lá vai desde a África do Sul, há quase um ano, quando quebrei o meu tornozelo. Pois é... longa história!

Cheguei num lodge no meio do nada, a 4 horas de jipe da cidade mais próxima sem estrada, numa baía lindíssima chamada Bulungula, um dos lugares mais bonitos que "descobri" durante esta viagem, onde tudo era eco-amigável e auto-sustentável. Com saltos e correrias de entusiasmo à chegada, escorreguei numas escadas e tive que ser resgatado de helicóptero para a cidade mais próxima e operado de emergência para colocar 7 parafusos no meu tornozelo esquerdo. Mas isso já lá vai. Agora já consigo andar, correr e tudo mais! Num dos próximos relatos a serem publicados, sairá a história completa!

Sento-me em frente ao computador agora, recém-chegado de uma viagem de 3 dias na floresta amazónica peruana. Viagem à selva!

Chegado à cidade de Iquitos, vindo de barco de Manaus, Brasil, busquei agências de turismo que organizassem viagens à selva. Encontrei várias e a que me pareceu melhor foi a "Amazon Adventure Expeditions". (sim, é aquele nome batido, de quem não topa muito de inglês mas quer chamar os camónes... eheheheh ) Fizeram um preço bom, têem vários anos de experiência e boas referências, e por isso decidi ir com eles. Ainda bem que não fiz uma viagem à selva em manaus, no Brasil, pensava para mim, onde o preço era três vezes mais caro, e numa área da Amazónia onde não se encontra tanta vida selvagem, devido à proximidade a um centro urbando maior.

Partimos dia 18 de Março, pelas 8h da manhã, de Iquitos num carro rumo a Nauta, pequena cidade a cerca de 150 km de Iquitos. A viagem foi meio acelerada e com uma alguma dose de adrenalina no volante, mas atingimos com sucesso o nosso destino. À chegada já nos esperavam num pequeno barco a motor, para nos levar até ao albergue na floresta. Chegámos pelas 12h, a tempo do almoço. O lodge era composto por várias casas de madeira construídas a cerca de 2 metros acima do solo, suportadas por estacas. As estações climáticas aqui são apenas duas: O Inverno, quando chove quase todos os dias e como consequência os rios se enchem, transbordam, e alagam terrenos que estão secos na estação seca, o Verão. Este último traz um abaixamento do nível das águas e permite às populações circularem mais a pé e menos de barco, e nalgumas áreas devido ao baixo nível de água, cultivar arroz.

O almoço foi "rico" e como manda a tradição peruana, composto de arroz e pollo! No Brasil me habituei bem ao arroz e feijão por isso o arroz do almoço soube a mel!! Depois de almoço fomos pescar por uns minutos com o Anthony, miúdo de 10 anos que já pesca o seu próprio alimento do rio e se vira que nem um pró na canoa. De seguida seguimos para um passeio à povoação vizinha do nosso lodge "Puerto Miguel" onde todas as casas estão sobre água suspensas por estacas. Uma experiência única foi chegar à "Discobar El Gusano" de barco, sendo essa a única maneira de lá chegar sem molhares pelo menos metade do corpo! Casas, escolas, bar, restaurantes, posto de saúde, etc. são assim ligados, por água, e ter uma canoaita é bom para viver mais facilmente nesta aldeia, que durante a estação chuvosa se cobre de água aos seus pés. De seguida descemos os rios Yarapa e Cumaceba
à procura de golfinhos. Conseguimos avistar vários mas sempre ao longe e nunca vimos mais do que a sua barbatana dorsal. Volvidos ao lodge amazónico, já ao pôr-do-sol, jantámos e descansámos cedo.
Tempo ainda para conversar à mesa com outros viajantes, trocar impressões sobre a selva, jogar uma cartada, aprender novos sotaques e novas línguas.

Dia seguinte seria bem emocionante: Campismo na Floresta!!! Saímos logoo cedo pelas 9h, numa pequena canoa com um motorzeco. Descendo rios, cortando caminho por riachos de água coberta por
plantas, cruzando lagos com jacarés dormindo, chegámos a um pedaço de terra que durante a estação chuvosa fica rodeado de água, uma ilha portanto. Um senhor já nos esperava preparando o almoço.. para varia, arroz e frango! Pollo Diablo!!! ahahahahahha (um abraço para ti mano!) Montei uma rede de dormir entre duas árvores e coloquei uma rede mosquiteira à sua volta e um toldo para a chuva por cima (que útil será!), e depois começou a ação. Pegámos na canoa e fomos até um bosque de árvores antigas semi-submersas em água. Atalhando, e com o conhecimento do nosso guia, o "Lobo", que nasceu, cresceu e trabalha nesta área desde pequeno e conhece tudo como a palma da mão, chegámos a águas onde as piranhas navegam. Lançámos os anzóis à água e tratámos de encontrar o nosso jantar. Pescámos uns 6 peixitos e foi bom para as 6 pessoas que estavam no campismo: um peruano, uma americana, um japonês, eu e dois guias. À chegada ao campismo, seguimos para uma caminhada na selva de cerca de 2 horas até que o sol o pôr-do-sol. Caminhando
por trilhas de lama, cruzando pequenos lagos, detetando pegadas de jaguar, tocas de armadilos (papa-formigas creio), e no meio de milhares de insectos.

Voltámos e já tínhamos piranha grelhada na brasa à nossa espera! Bem bom. É um peixe com pouca carne, mas o sabor a grelhado deu saudades da terra-mãe e foi tudo um sucesso. Depois de jantar pegámos na canoa e fomos de novo aos lagos, desta vez já de noite, apenas com a lanterna
na cabeça do "lobo", buscando jacarés. Quando uns olhos à tona da água brilharem com o reflexo da lanterna, lá estão eles. Mas procurámos e procurámos por um par de horas, e nada. Voltámos ao acampamento pelas 22h mesmo antes de cair uma chuvada forte, que se pararia no dia seguinte,
depis de chegarmos ao lodge. Choveu e choveu nessa noite, a ponto de ter entrada água no motor, e nao termos podido usá-lo para voltar ao lodge. Fomos a remar! Numa canoa ia o guia Santiago, o japonês e eu remando, e no outro o "lobo" e o peruana e a americana (de alabama com sotaque à forrest gump!! ehehehhe que deboxe!!).

Assim foi... acordámos pelas 8h da matina, arrumámos tudo e seguimos nas canoas em modo manual. Eu consegui descansar bem à noite, dada a chuva, os insetos, os barulhos que se escutam no meio da selva, e uma vez que dormi numa rede, foi das melhores noites dormidas numa rede! Seguimos por 2 horas remando nas águas amazónicas sob chuvada, cruzando lagos e estreitamentos coloridos de plantas verdes à tona de água (e que dificultam remar pa caramba!), até que chegámos ao rio, e por sorte estava a nosso favor e poupou mais umas horas de remo. Foi uma aventura! Mas soube bem!
Exercício pela manhã, uma dosezita de adrenalina e um pequeno-almoço tomado no meio do rio cumaceba, sentado numa canoa!

Memorável!

Camarada, até breve.
Estamos juntos, levo-te comigo nesta caminhada pelo Mundo, de volta à Tugolândia.

João Aguiar

Livros: Brave New World, Aldous Huxley
Música: Ya se ha muerto mi avuelo - Juaneco y su combo, Como hago - Kaliente
Filme: Slumdog Millionaire, Danny Boyle
Comida de Iquitos: Sesina y tacacho - carne de uma espéice de javali servida com uma bola feita de banana com pedaços de carne - muy rico!!!

sábado, 21 de março de 2009

Na Amazónia Peruana

Iquitos, Perú

Já faz um bom tempo desde que não me dedico a escrever relatando o que se tem passado no meu quotidiano. Já lá vai desde a África do Sul, há quase um ano, quando quebrei o meu tornozelo. Pois é... longa história!

Cheguei num lodge no meio do nada, a 4 horas de jipe da cidade mais próxima sem estrada, numa baía lindíssima chamada Bulungula, um dos lugares mais bonitos que "descobri" durante esta viagem, onde tudo era eco-amigável e auto-sustentável. Com saltos e correrias de entusiasmo à chegada, escorreguei numas escadas e tive que ser resgatado de helicóptero para a cidade mais próxima e operado de emergência para colocar 7 parafusos no meu tornozelo esquerdo. Mas isso já lá vai. Agora já consigo andar, correr e tudo mais! Num dos próximos relatos a serem publicados, sairá a história completa! Sento-me em frente ao computador agora, recém-chegado de uma viagem de 3 dias na floresta amazónica peruana. Viagem à selva!

Chegado à cidade de Iquitos, vindo de barco de Manaus, Brasil, busquei agências de turismo que organizassem viagens à selva. Encontrei várias e a que me pareceu melhor foi a "Amazon Adventure Expeditions". (sim, é aquele nome batido, de quem não topa muito de inglês mas quer chamar os camónes... eheheheh ) Fizeram um preço bom, têem vários anos de experiência e boas referências, e por isso decidi ir com eles. Ainda bem que não fiz uma viagem à selva em manaus, no Brasil, pensava para mim, onde o preço era três vezes mais caro, e numa área da Amazónia onde não se encontra tanta vida selvagem, devido à proximidade a um centro urbando maior.

Partimos dia 18 de Março, pelas 8h da manhã, de Iquitos num carro rumo a Nauta, pequena cidade a cerca de 150 km de Iquitos. A viagem foi meio acelerada e com uma alguma dose de adrenalina no volante, mas atingimos com sucesso o nosso destino. À chegada já nos esperavam num pequeno barco a motor, para nos levar até ao albergue na floresta. Chegámos pelas 12h, a tempo do almoço. O lodge era composto por várias casas de madeira construídas a cerca de 2 metros acima do solo, suportadas por estacas. As estações climáticas aqui são apenas duas: O Inverno, quando chove quase todos os dias e como consequência os rios se enchem, transbordam, e alagam terrenos que estão secos na estação seca, o Verão. Este último traz um abaixamento do nível das águas e permite às populações circularem mais a pé e menos de barco, e nalgumas áreas devido ao baixo nível de água, cultivar arroz.

Lodge
Albergue na selva.
Anthony, the young fisherman from the Amazon
Anthony, o jovem pescador da selva.

O almoço foi "rico" e como manda a tradição peruana, composto de arroz e pollo! No Brasil me habituei bem ao arroz e feijão por isso o arroz do almoço soube a mel!! Depois de almoço fomos pescar por uns minutos com o Anthony, miúdo de 10 anos que já pesca o seu próprio alimento do rio e se vira que nem um pró na canoa. De seguida seguimos para um passeio à povoação vizinha do nosso lodge "Puerto Miguel" onde todas as casas estão sobre água suspensas por estacas. Uma experiência única foi chegar à "Discobar El Gusano" de barco, sendo essa a única maneira de lá chegar sem molhares pelo menos metade do corpo! Casas, escolas, bar, restaurantes, posto de saúde, etc. são assim ligados, por água, e ter uma canoaita é bom para viver mais facilmente nesta aldeia, que durante a estação chuvosa se cobre de água aos seus pés. De seguida descemos os rios Yarapa e Cumaceba à procura de golfinhos. Conseguimos avistar vários mas sempre ao longe e nunca vimos mais do que a sua barbatana dorsal. Volvidos ao lodge amazónico, já ao pôr-do-sol, jantámos e descansámos cedo. Tempo ainda para conversar à mesa com outros viajantes, trocar impressões sobre a selva, jogar uma cartada, aprender novos sotaques e novas línguas.

Dia seguinte seria bem emocionante: Campismo na Floresta!!! Saímos logoo cedo pelas 9h, numa pequena canoa com um motorzeco. Descendo rios, cortando caminho por riachos de água coberta por plantas, cruzando lagos com jacarés dormindo, chegámos a um pedaço de terra que durante a estação chuvosa fica rodeado de água, uma ilha portanto. Um senhor já nos esperava preparando o almoço.. para varia, arroz e frango! Pollo Diablo!!! ahahahahahha (um abraço para ti mano!) Montei uma rede de dormir entre duas árvores e coloquei uma rede mosquiteira à sua volta e um toldo para a chuva por cima (que útil será!), e depois começou a ação. Pegámos na canoa e fomos até um bosque de árvores antigas semi-submersas em água. Atalhando, e com o conhecimento do nosso guia, o "Lobo", que nasceu, cresceu e trabalha nesta área desde pequeno e conhece tudo como a palma da mão, chegámos a águas onde as piranhas navegam. Lançámos os anzóis à água e tratámos de encontrar o nosso jantar. Pescámos uns 6 peixitos e foi bom para as 6 pessoas que estavam no campismo: um peruano, uma americana, um japonês, eu e dois guias. À chegada ao campismo, seguimos para uma caminhada na selva de cerca de 2 horas até que o sol o pôr-do-sol. Caminhando por trilhas de lama, cruzando pequenos lagos, detetando pegadas de jaguar, tocas de armadilos (papa-formigas creio), e no meio de milhares de insectos.
Cruzando os lagos verdes Rede de dormir no campismo
Cruzando os lagos cobertos de plantas flutuantes.
Montando a rede de dormir no campismo.


Voltámos e já tínhamos piranha grelhada na brasa à nossa espera! Bem bom. É um peixe com pouca carne, mas o sabor a grelhado deu saudades da terra-mãe e foi tudo um sucesso. Depois de jantar pegámos na canoa e fomos de novo aos lagos, desta vez já de noite, apenas com a lanterna na cabeça do "lobo", buscando jacarés. Quando uns olhos à tona da água brilharem com o reflexo da lanterna, lá estão eles. Mas procurámos e procurámos por um par de horas, e nada. Voltámos ao acampamento pelas 22h mesmo antes de cair uma chuvada forte, que se pararia no dia seguinte, depois de chegarmos ao lodge. Choveu e choveu nessa noite, a ponto de ter entrada água no motor, e nao termos podido usá-lo para voltar ao lodge. Fomos a remar! Numa canoa ia o guia Santiago, o japonês e eu remando, e no outro o "lobo" e o peruana e a americana (de alabama com sotaque à forrest gump!! ehehehhe que deboxe!!).

Lobo pescou o jantar
O guia "Lobo" pescou mais um para o jantar.
Bosque semi-submerso
Bosque amazónico semi-coberto de água.
juaum pescador Pegada de jaguar
Na pescaria amazónica!
Pegada de jaguar, durante a caminhada na selva.


Assim foi... acordámos pelas 8h da matina, arrumámos tudo e seguimos nas canoas em modo manual. Eu consegui descansar bem à noite, dada a chuva, os insetos, os barulhos que se escutam no meio da selva, e uma vez que dormi numa rede, foi das melhores noites dormidas numa rede! Seguimos por 2 horas remando nas águas amazónicas sob chuvada, cruzando lagos e estreitamentos coloridos de plantas verdes à tona de água (e que dificultam remar pa caramba!), até que chegámos ao rio, e por sorte estava a nosso favor e poupou mais umas horas de remo. Foi uma aventura! Mas soube bem! Exercício pela manhã, uma dosezita de adrenalina e um pequeno-almoço tomado no meio do rio cumaceba, sentado numa canoa!

Memorável!

Juaum na Amazónia Lago
Na Amazónia.
Lago.


Camarada, até breve.
Estamos juntos, levo-te comigo nesta caminhada pelo Mundo, de volta à Tugolândia.

João Aguiar

Livros: Brave New World, Aldous Huxley
Música: Ya se ha muerto mi avuelo - Juaneco y su combo, Como hago - Kaliente
Filme: Slumdog Millionaire, Danny Boyle
Comida de Iquitos: Sesina y tacacho - carne de uma espéice de javali servida com uma bola feita de banana com pedaços de carne - muy rico!!!